segunda-feira, 12 de abril de 2010

CONTO: O SEGREDO DE SARAH LEE


Nos centros urbanos de grandes cidades, a agitação, é mão dupla no coração de quem passa, de quem espera nas lojas, para mover o capitalismo que avança e torna-se gigantesco cada dia que passa, cada segundo, cada minuto. Como um relógio em seus ponteiros que circula tudo o que se vende, tudo que inevitavelmente se esbanja. Os grandes e os pequenos empresários mal têm tempo para parar esses ponteiros do tempo.Agitam-se, preocupam-se obviamente com o lucro de seus negócios.

Numa dessas avenidas de centros comerciais, haviam várias lojas, grandes e pequenas, dependendo do capital que foi empregado. A lojinha do senhor Itabira e dona Judith, vendia artigos importados. Era simples, aconchegante, sortida, fora a princípio, alugada. Mas com a morte do pai do sr. Itabira, fora comprada, ficando nas mãos dele, de sua esposa Judith e de vez em quando, da única filha do casal, Sarah Lee.

O senhor Itabira casara já com idade avançada, assim como a sua esposa, Judith. Ele, nissei e ela, brasileira. Assim, estabeleceram nessa loja, uma clientela de alta rotatividade. A Sarah Lee, tendo 17 anos, cursava o último ano do segundo grau, tinha altura mediana, era magra, pele alva, os cabelos à princípio, eram castanhos escuros, mas com a ajuda da cabeleireira de um salão próximo, ficaram avermelhados.A sua fisionomia era fina, bonita, sorridente, rápida no caixa da lojinha de seus pais. Dava gosto para os mesmos quando a menina ficava no caixa!

Com o passar do tempo,o comportamento de Sarah Lee, foi modificando-se. Não suportava ajudar os pais, não gostava de estudar, ficava no apartamento onde morava com seus pais, desligada do mundo. Adorava ficar em seu quarto, sozinha, escutando músicas numa altura que incomodava os vizinhos do prédio. E por várias vezes, os pais recebiam reclamações através do sindico do prédio. Os pais contornavam sempre as diversas situações que a filha aprontava, ora no elevador, ora na piscina, com o uso de biquíni diminuto, escandalizando as pessoas lá.

Uma vez, na loja, Sarah Lee, discutiu com uma cliente por coisa boba.

-Moça, quanto custa o óculos?

-A senhora não está vendo o preço não?

-O número está pequeno e eu esqueci o meu óculos em casa, não consigo enxergar direito.

-Ah! A senhora é cega, mesmo?

-A sua mãe não lhe dar educação, não? Para atender mal assim os clientes!

-Ora! Minha senhora, deixa o óculos aí, já que está fazendo novela para não comprar!

A mulher ficou chateada com a rebeldia de Sarah Lee, saiu da loja, indignada. Depois, essa mesma senhora voltou até a loja, encontrou o sr. Itabira, contou o que aconteceu, ainda indignada com o tratamento pelo qual tinha sido atendida pela garota. Pediu para o homem não deixar a sua filha sozinha naquela loja, com o risco do mesmo perder a clientela. O sr. Itabira, com aquele jeito manso, com a paciência de ouvir as reclamações sobre a filha, fazia gestos com a cabeça de positivo. Embora chateada, comprou o óculos que necessitava e agradeceu a atenção do dono daquela lojinha.

Ao chegar no apartamento, o homem tenta falar com a filha, com a calma de sempre, sem se alterar, explica o quanto é preciosa a presença dela lá na loja, de seu carinho para com os clientes. Sarah fazia-se de arrogada, fingia ouvir, fingia entender. Quando o pai terminava o sermão, ela nada respondia, como de costume, corria para o seu quarto e fechava-se.

O tempo passava, era inverno forte. As tempestades, as chuvas demoradas, as enxurradas, as avenidas alagadas. Tudo era transtorno no inverno! E para não fugir das regras que ocorrem em grandes centros urbanos, muitas lojas invadidas pelo excesso de água. A loja do sr. Itabira, foi parcialmente comprometida, deixando um pequeno rastro de perdas de mercadorias.

Naquela noite de inverno forte, de tempestades, de preocupações quanto aos prejuízos do pequeno comércio, o silêncio reinava naquele apartamento.O sr. Itabira contabilizava, na mesa da sala de jantar, o que havia perdido com a água das chuvas.
Sua esposa Judith, assistia como de praxe, a novela e a Sarah Lee, no seu quarto.

Antes de dormir, desligaram a TV, as lâmpadas das duas salas, caminhavam para o quarto, quando a dona Judith teve a ideia de dar uma boa noite e um beijo em sua filha. O sr. Itabira continuou caminhando para o quarto do casal, acendeu a luz, sentou na cama, quando ouviu um grito absurdamente alto da mulher.

Ao chegar no quarto da filha única, linda, nova, em pleno início da adolescência, da vida, de um futuro que prometia a sua continuidade no comércio, viu a mesma ali deitada, completamente paralisada. A mulher tentava em vão reanimar a filha, que se encontrava com o nariz sangrando, entre o quarto e a suite. Na mesinha no seu computador, espalhado no pratinho, um pó branco, por eles desconhecido.

Chamaram a ambulância, deixando todos do prédio, em ampla curiosidade, perguntando-se o que havia acontecido com a menina. Mas os pais já desconfiavam que Sarah Lee, tinha morrido por causa do uso excessivo daquele pó. O diagnóstico pós morte, foi feito, morte por overdose.

Uma pena que mais uma jovem com a vida toda para seguir em frente, com uma família bem estruturada, com um valor aquisitivo bom, tenha se perdido nesse mundo louco e obscuro que é o das drogas. Os seus pais lamentavam não só a falta de diálogo, de atenção devida, mas também da busca por outros recursos para salvar a sua única filha.Seria a ganancia a culpada? O capitalismo louco? A falta de amor? A falta de fé?

-Angel-

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