sexta-feira, 9 de abril de 2010

CONTO: NÃO FICOU SÓ


Observando as rochas de longe do interior, Pereirinha, um velho agricultor, de enxada já guardada, pelo calejar ardoroso de sua labuta. Ver o aqui e o acolá das plantas características do seu amado e velho sertão. Está sentadinho num tamborete no alpendre de sua casa, com o cheiro de leite, de estrume de gado, que cria próximo de seu terreiro.
A cena pintada do olhar distante desse homem que contribuiu para o crescimento e a luta da educação que deu para seus filhos e filhas; vê um caminho de longas estiagens, poucas chuvas, o sufoco que era colocar na mesa o pão nosso de cada dia.E relutância do sono, a capengar do pescoço que insiste em lhe cair de vez em quando. O que será que pensa o seu Pereirinha, assim sentado, com o olhar distante? Seria a saudade da mulher que partiu para junto do senhor Jesus, deixando os olhos marejados de saudade?
Seria a solidão que amargurava o seu peito? Seria a distancia de seus filhos e filhas já crescidos e morando distante? Perto dele havia apenas a filha caçula que não quis estudar longe, se agarrou naquele pequeno sítio como se ela fosse árvore e o chão daquelas bandas, suas raízes.
Ela, aparentava uns quarenta anos, mas na verdade tinha uns trinta e poucos anos de apego ao lugar e ao pai. A princípio se interessou para se casar, fez um enxoval, como toda moça que se prezava, não gostava de sair com o noivo para qualquer daqueles forrós próximos do sítio. O tempo foi passando, passando e o noivo se enjoo de Margarida. Acabou e casou-se logo com a Rita, que morava no lugarejo próximo dali.
Margarida ficou tão triste que esbravejou que nenhum outro homem iria a enganar, que não iria "gostar" mais de ninguém. Teve um tempo que os irmãos e as suas irmãs, a aconselhavam de sair dali, morar com algum deles. Mas ela já sem a mãe, sentindo dó do velho pai, desistiu do intento.
Houve também da parte dela a vontade de servir a Jesus Cristo, ser noviça, ir para uma irmandade de freiras. Mas desistiu! Isso teve uma razão muito triste no percurso de sua vida interiorana. Isso por causa de uns ladrões, bandidos e desordeiros que passaram pelo sítio, roubaram o que tinha de valor, espancaram seu Pereirinha e mexeram com o que margarida mais guardava, a sua virgindade. Ela ficou desolada, triste amargurada, guardou por certo tempo aquelas cenas de um pesadelo cruel e muito real.Jamais planejou isso para ela! Mas como todo o pesadelo ruim passa e tudo na vida passa, com o tempo, ela esqueceu.
O tempo foi implacável com Margarida, que tomou as rédeas do pequeno sítio, resolvendo tudo. Tirava o leite de duas vacas, cuidava das galinhas, das plantas hortaliças, fazia os afazeres domésticos, ia no lugarejo pegar a aponsentadoria de seu Pereirinha, fazia compras dos mantimentos. A única pessoa que ainda ajudava a Margarida era um rapaz, o José do brejo, que também se afeiçou por aquele lugar calmo, de pouca iluminação, de cheiro de mato, de silêncio, de noites estreladas, de noites de luas explícitas, do cantarolar dos sapos a coacharem e daquela orquestra louca dos grilos. Ele tinha uns trinta anos, gostava de fazer poesias, escrever coisas engraçadas para fazer Margarida sorrir, junto com o cochilar de seu Pereirinha, durante o finsinho de tarde. Quando ia caminhando ou de bicicleta para os lados do "brejo", um lugar baixo, muito florido, cheio de plantas, pois ficava perto de um açude.
Um dia desses, fins de tarde de sol avermelhado, se pondo de teimoso, assim forte, como todo sertanejo; O seu Pereirinha sentado num longo banco de madeira escura, feito de árvores daquela região mesmo, começou os seu cochilar habitual, o seu olhar as vezes aberto, as vezes fechados, numa briga de querer e não querer. Margarida na cozinha, fazendo café com tapiocas, para o José do brejo, ela e o seu velho pai tomarem.Ouviram um chamado de seu Pereirinha:
-Margô, Margô, Margô!
Correram juntos, ela e o José, para ver o que o seu Pereirinha estava falando mesmo e com quem. Ao chegarem no alpendre, encontraram seu Pereirinha deitado de lado, parado, com seus olhos abertos, pequenos, azuis e distantes.Havia tido um enfarto, e o seu último chamado foi o nome de sua mulher, Margô. José e Margarida, se olharam, tristes, abatidos, tentando reanimar o aquele senhor,um sertanejo, um agricultor de muitas batalhas.
O tempo passou rápido depois do falecimento de seu Pereirinha. Mas algumas mudanças aconteceram. Margarida grávida, com um sorriso no canto da boca, na cozinha, fazia o café com tapiocas, para o seu marido José.

-Angel-

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