segunda-feira, 29 de março de 2010

CONTO: Um outono de decisões


Era um outono, as folhas de acácias se destacavam como borboletas aos ventos, as flores se desfaziam em pétalas, deixando um tapete no chão em cores vivas, ora em cor amarelo, ora em cor lilás. Nesta atmosfera romântica, de brisa leve, de aroma dos campos, as pousadas próximas das praias estavam com poucos turistas, ocupando-as. Mas William, um contador e sócio de uma cadeia de hotéis e pousadas no litoral brasileiro, resolveu fechar alguns negócios, longe do centro urbano.
William, era divorciado, estava nesse sentido livre de compromissos familiares, e numa reunião com os sócios, revolveu que iria fazer a viagem. Tinha cabelos grisalhos, apesar de novo ainda, estatura mediana,olhos castanhos,um sinal discreto no rosto do lado esquerdo e um sorriso marcante.
Tinha vontade de conhecer as praias do nordeste, com a oportunidade oferecida, não questionou, tomou um avião, num voo mesmo comercial. Ao desembarcar, fretou um táxi rumo as pousadas contactadas. Se deslumbrou com a bela visão. Quando desceu do carro, verificou que no povoado próximo haviam muitos grupinhos de galeras com jeito de quem curtiam drogas. As gírias, os gestos, o caminhar dessa galera chamava a atenção das pessoas que circulavam.
Andou apressado, observou garotos e garotas ali, no consumo de drogas, desde a idade de onze até uns vinte anos. Apressou ainda mais os passos, mas foi abordado, por uma delas.
-Ei, tio, quer me ajudar, hoje?
Ele foi indiferente, caminhou mais rápido, sem olhar para trás ou para os lados. A garota continuou em seu objetivo de pedir uma ajuda, assim, sustentava, talvez a compra de suas drogas.
-Oi, tio, para um pouco, vai! Gostaria de me ajudar? Você não quer fazer um amorsinho comigo? Será bom, eu sei!
William franziu a testa, um suor frio lhe desceu pelo corpo, se preocupou com aquela oferta alí, em pleno dia, objetiva, sem nenhum propósito, a não ser a intenção de receber dinheiro para o consumo da droga.
Andou sempre sem olhar para aquela voz feminina, quase infantil, que o abordava. De repente, parou, observando a menina que insistia neste intento quase surreal para ele. Ela era alta, corpo franzino, pele morena do sol, cabelos na altura dos ombros, castanhos e encaracolados, aparentava uns dezesseis anos. A beleza rude das feições daquela garota, deixava claro a falta de vaidade, num short azul e numa camiseta branca. O cheiro característico de cigarro fluia pelo ar.
Ele a fitou um pouco, achou que a vida castigou aquela garota pela péssima escolha que tinha feito. E principalmente, naquela condição de vender o seu corpo em troca de alguns trocados. E indagou:
-Por que você faz esse tipo de coisa?
-Ora moço, preciso, comer,me vestir, pegar ônibus e outras coisas, né?
-Mas você consume drogas, não é?
-Não muito, sou uma gorota controlada.
-Você sabia se eu for pego contigo, vai dar problemas para mim?
-Vai nada! Já andei com outros e não deu problema, não, moço.
- Olha, eu sou mais velho que você, tenho compromissos de trabalho por aqui. Mas fico triste com a sua história, menina.
-Que história, moço? Quero só ganhar alguns trocados. Só isso!
Ela já ia se afastando, quando William, falou:
-Olha, espere, vou resolver alguns problemas. Mas espere ali, naquela praça. Mais tarde se você ainda tiver por lá, lhe levo, ok?
-Ok! Tá certo,moço, vou esperar.
O contador caminhou pelo lugarejo, resolveu os fatos pendentes. Parou num local em que haviam uns taxisistas, falou demoradamente com um deles. Os dois gesticulavam, falavam por vezes alto, um balançou a cabeça(O taxisista) e William,tocou de leve no ombro dele, falava como se tivesse combinando algo importante, do tipo, convencimento.Então, o taxisista concordou finalmente. O taxi seguiu até aquela pracinha de acácias amarelas, de flores caiadas ao chão, com aquela menina ansiosa à espera de mais uma aventura.
Ao chegar próximo da praça, William acenou, ela entrou no carro e seguiram o percurso em silêncio. Um pouco distante dali, o taxisista adentrou num ambiente de muro alto, paredes brancas, calmo, bonito, arejado, com uma piscina ao lado esquerdo e uma enorme casa de arquitetura simples. E na faixada, escrito em letras garrafais:Clínica de Reabilitação de Dependentes Químicos...

-Clécia-

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